Friday, February 23, 2007

Banho cultural

O pequeno príncipe torna impossível o banho de banheira, e não é de hoje. Desde que começou a ficar de pé, nunca mais sentou, e se contorce o tempo todo tentando pegar objetos fora do alcance ou procurando os brinquedos que acabou de jogar no chão. Ver a mãe lutando para mantê-lo sentado na banheira sempre me lembra de um episódio bastante patético envolvendo uma banheira e eu.

Sempre associei banheiras a relaxamento, e chuveiros a limpeza. Porque, como você chega sujo, entra numa banheira cheia de espuma, se esfrega, fica de molho junto com as imundícies que traz da rua e depois se enxuga e acha que está limpo? Não há como eu sair daquela poça de bactérias e não tomar uma ducha, não há.

Então teve essa vez em que eu fui com uns amigos ingleses passar uns dias numa autêntica cottage escocesa. Quando entrei no banheiro, constatei, atônita, que não havia chuveiro na casa, apenas uma grande banheira. O que é que eu fiz? Sem comunicar aos meus anfitriões o meu desconforto, fui até a cozinha e surrupiei uma caneca (também não dava para pegar nada maior discretamente) com a qual pegava água e jogava no corpo enquanto passava um frio desgraçado de pé dentro da banheira. Foram cinco dias nessa palhaçada, tudo por causa da minha cultura exótica que valoriza a limpeza em detrimento da comodidade.

Vejam que chic: a pessoa sair do Brasil para ir tomar banho de cuia na Escócia. Logo eu que pensava que só a CEDAE era capaz de me proporcionar tão gratificante experiência naquelas ocasiões de reparos emergenciais na rede!

5 comments:

Anonymous said...

Lys, adorei sua história, tb só me sinto limpa debaixo do chuveiro. Mas convenhamos, uma coisa é tomar banho de cuia aqui, outra é na Escócia. ;) Eu, infelizmente, nunca tomei banho fora do Brasil.

Anonymous said...

De caneca é meio sem graça mesmo... Eu faço o contrário. Tomo o banho de ducha e depois vou relaxar na banheira... ;) bjs,

Anonymous said...

Lys, eu sou muito pior do que voce. Temos dois banheiros em casa, no meu quarto so tem o chuveiro e no dos meninos tem uma banheira que tem um chuveiro em cima (muito comum aqui). Dai que as vezes eu morro de vontade de relaxar na agua quentinha, mas eu acho que a banheira ta suja, porque fulano tomou banho la. Depois de limpa, a banheira tem os vestigios dos produtos quimicos usados para limpa-la. Ainda tem o fato de que eu teria que tomar uma ducha antes e, talvez, depois. Desisto. Eu sou doente mesmo. Tomo banho com meus sabonetes aromaticos e depois abro uma garrafa de vinho tinto, relaxa do mesmo jeito.

Anonymous said...

Se eu tivesse banheira e quisesse relaxar, faria como a Rosangela, pois penso do mesmo modo que você(s).

Achei graça da sua história porque quase passei por algo parecido (só que teria sido muito mais "dramático").
Quando fui pela primeira vez à Europa, aproveitei pra encontrar (e conhecer!) um amigo, que vivia em Strasbourg, com quem me correspondia há alguns anos. O primeiro impacto já começou em ter que subir 6 andares pela escada (eu carregava uma mochila tão gigantesca quanto pesada!). Depois, meu anfitrião me mostrou o banheiro (coletivo!) no corredor do andar em que ele dividia com mais 4 vizinhos. Tudo bem, pensei, vou fazer de conta que estou num daqueles hotéis modestos. Eu só não imaginava que o banheiro se restringisse a APENAS um vaso sanitário e NADA mais!!!! Diante disso, perguntei ao meu amigo como ele fazia pra tomar banho (ciente da “fama” dos franceses, mas sabendo que ele era belga). Então, ele me mostrou o processo: colocou uma bacia no chão da cozinha e, com uma caneca na mão, disse que eu podia me servir da água da pia. Preciso dizer que não tomei banho? Minha “sorte” é que fiquei só 2 dias no apartamento dele, além do que fazia muito frio na cidade. Porém, depois que deixei a casa dele fui correndo para um hotel fazer, dignamente, o que era necessário!

Lys said...

Daniele, você tem toda razão. Quando acontece de eu ter que tomar "banho de cuia" no Brasil, me dá um tremendo mau humor, o que não aconteceu na Escócia absolutamente. O que ficava martelando na cabeça mesmo era o ridículo da situação.

Também pode, não é, Rosangela? É mais um daqueles casos em que a ordem dos fatores não altera o produto e blá, blá, blá. :) Acho que tudo é uma questão de costume.

Carla, sem dúvida você é piorzinha em maluquices do que eu. Nem penso nos produtos de limpeza. Também, para quem não tem empregada doméstica e tem que lavar quatro banheiros no fim de semana e ficar embebida em cloro até os cabelos, um restinho de amoníaco na banheira não é nada! A vida é dura na senzala, sinhá!

Wagner, o meu pior pesadelo em viagens é me deparar com esses hotéis com banheiro compartilhado. Graças a Deus nunca passei por isso. Ficar numa casa sem chuveiro é inimaginável para mim. O pior é que você nem podia dar uma desculpa e ir para outro lugar, não? Tremenda falta de educação! Culturas são tudo nesta vida. Neste aspecto, fico feliz de ter nascido no Brasil; nós somos pobres, mas somos limpinhos! Hahahaha!