Em tempos de Pan, muito se fala sobre a importância do esporte para a inclusão social e a conquista da cidadania de crianças pobres. Já tive grandes discussões sobre isso com uma pessoa diretamente ligada à política pública de esportes. Não há dúvida de que é muito melhor que uma criança esteja numa Vila Olímpica praticando esportes do que no meio da rua aprendendo a cometer delitos; não obstante, é óbvio que a prioridade não deve ser essa.
Uma justificativa? Dou um exemplo: ontem duas atletas adolescentes provenientes de comunidades carentes deram entrevista ao vivo em um telejornal. As meninas eram medalhistas, mas não sabiam articular os pensamentos mais simples, ficavam perdidas e repetiam as mesmas frases vazias duas, três vezes. Fiquei constrangida por elas.
Isso é dar cidadania? Passados os anos de glória no esporte, o que vai lhes sobrar? Que lugar vão ocupar na escala social e profissional? Vão viver os resto da vida com um salário mínimo por mês, comendo mal, sem acesso à saúde, tendo dez filhos, que, por sua vez, poderão ou não ter a mesma "sorte" e possuir um talento natural para uma passagem gloriosa - porém breve - pelo esporte?
Que ninguém venha me falar de esporte como se fosse o caminho para dar às pessoas uma vida melhor. Por favor, dêem-lhes escola de qualidade e, com isso, o que mais lhes convier - esporte, dança, arte... O povo agradece.