Thursday, January 17, 2008

Vazia

Na verdade, amanhã é meu último dia de férias. Absurdamente volto ao moedor de carne numa sexta-feira -- alguém aí já viu algo assim?

Que lixo de férias eu tive. Tudo por causa da minha indolência e falta de vontade de qualquer coisa. Estou incapaz de colocar umas coisas na bolsa, jogar no carro e partir rumo a Parati, Angra, Búzios, o inferno. De bom, só uns livros lidos na rede, umas tardes na piscina (pero fugindo sempre do sol), duas sessões de cinema e muito bate-perna em shopping (gastando, gastando, gastando...).

R. me telefonou hoje. Está no Brasil até domingo e quer me apresentar o namorado novo, suíço. Somos amigas, faz um ano que não a vejo, mas eu tenho preguiça até de ir vê-la. É lógico que não disse isso a ela, então amanhã vou fazer programa de gringo: Santa Teresa, de bonde. Eu só vou lá de carro. Veja que isso envolve todo um esquema de pegar ônibos até o centro. Eu nem sei mais andar de ônibus. Quando eu pegava ônibus, a porta de entrada era atrás. Fico feito barata tonta mesmo. Desconfio de todo mundo, acho que vou ser assaltada a qualquer momento. Depois, andar para trás para saltar, acho bizarro. Sou uma velhinha e qualquer dia vou começar a dizer "no meu tempo, isso e aquilo".

Já virou uma ladainha, mas vou repetir: sinto uma falta enorme do blog e de tudo o que ele traz a reboque, ou seja, da interação com vocês. É lógico que eu deveria procurar mais interação não-virtual, mas, de novo, a preguiça. Às vezes, até acho que quero, mas depois desisto. É um esforço tão grande! Eu queria encontrar uma pessoa que me encantasse, dessas com quem a gente começa a conversar e não quer parar nunca mais. Sinto muita falta disso: encantamento por pessoas.

Um pequeno encatamento existente ainda é dirigir pelo Aterro, rumo a Botafogo, em dia de sol. Os morros na Urca, o mar pontilhado de embarcações. Azul, verde, azul, verde, azul, verde. Que sorte. Se eu tivesse nascido em uma cidade menos absurdamente linda, o que ia me restar?

8 comments:

Unknown said...

O vazio não é um mal sinal. Você pode sempre encher com o que tiver vontade... :) Mas que de vez em quando é preciso vencer o "Schweinehund" que temos dentro de nós e nos colocar em movimento, lá isto é. Aliás, "porcocachorro" é como se chama aqui o "bicho" que temos dentro de nós e que não nos deixa movimentar, apesar das boas intenções. :) Mas morando na cidade maravilhosa, não é necessário muito para alegrar os olhos e alma.
Bom te "ouvir", Lys.
Um abraço,

Léli said...

Oi!!
Também sofro disso vez por outra, minha mãe briga, mas não adianta muito não.
É fase, é a idade, sei lá... sei que é fácil interagir por estes meios, mas falta carne as vezes.
Não pare de escrever, me faz muito bem te ler.
Beijão

Lys said...

Rosangela, adorei essa história de "porcocachorro"; vou adotar e sair falando: "hoje estou com porcocachorro!". Se minha pronúncia em alemão fosse decente, ia até arriscar o termo original. Já pensou que luxo cunhar uma expressão (embora roubada de você na maior cara de pau)? :)

Léli, minha mãe não briga.;) Estou até desconfiada de que ela gosta de ter os filhos todos agarrados à barra da saia. Meus pais não são nada "live and let live", eles parecem nunca ter ouvido falar da teoria de "criar os filhos para o mundo"! Mas são fofos, viu, senão ninguém ia agüentar tanto grude aqui em casa.

Bom te ver! Agora posso dar um rosto ao nome! És uma menina - tens o quê...treze anos?

Anonymous said...

E então?, já resolveu a questão de publicar (no seu), visitar e comentar os blogs?
Sabe, preciso confessar uma coisa: eu também gostaria muito de poder me encantar (novamente) por pessoas... Já faz muito tempo que isso não acontece comigo. Em todo caso, sempre resta o Rio, com seu verde, azul, verde, azul, verde, azul... pelo menos isso.

Anonymous said...

Por que essa preguiça de viver, não é mesmo? Parece que tudo é tão difícil, impossível. Eu vivo assim, mas eu sou deprimida mesmo, tô nas estatísticas.
Bom que tenha algo que console. Consolo é tão bom, às vezes é só o que a gente precisa.

Lys said...

Wagner, não resolvi a questão dos blogs, e isso virou uma pequena e tola angústia, um motivo a mais para eu ficar repetindo para mim mesma que não tenho tempo/espaço para fazer o que eu realmente gostaria. Fico adiando tudo para "quando eu comprar meu apartamento". Chega a ser ridículo adiar tudo para um futuro tão incerto.

O encantamento por alguém às vezes me faz muita falta. Acho que minha dificuldade de conseguir isso, enquanto todo mundo se encanta a cada doze segundos, sinaliza que a doida, de fato, sou EU. :)

Daniele, a depressão é coisa muito séria. Eu costumo dizer que não tenho talento para ela, e não tenho mesmo. Sou detentora de um mecanismo de proteção que sempre me impele para fora e não para dentro quando vou ficando mais introspectiva, por mais paradoxal que isso possa ser. O que eu tenho é preguiça social, sabe? Eu evito aceitar convites e, quando aceito, fico procurando um motivo para não ir, mas no fim acabo saindo e quase sempre me divirto muito.

Anonymous said...

Lys, eu sei que depressão é coisa muito séria. Eu tenho essa doença, me trato, e talvez por isso mesmo me sinta na liberdade de brincar sobre ela.
Ninguém tem talento pra depressão, aliás é muito preconceito dizer que quem tem depressão tem talento pra coisa. Ninguém diz que é preciso talento pra ter câncer ou diabetes.
Não quis ofender, nada disso. E só tô aqui escrevendo essas coisas porque você parece ser uma pessoa legal, eu gosto do que você escreve e fiquei triste e ofendida de você pensar assim.
Mas esse é o seu blog, não é lugar pra você ter que ouvir reclamação. Fiquei chateada, grande coisa, mais uma insatisfeita pra se juntar às tantas desse mundo.

Lys said...

Daniele, quando disse que não tinha talento para depressão, deveria ter dito que não tinha talento para a MELANCOLIA ou para a TRISTEZA. Se você tem depressão, sabe que há uma diferença bem grande aí. Mas a gente acaba se deixando se levar pelo senso comum e dizendo coisas sem pensar. Eu estou num grupo de pesquisa com pacientes que têm depressão, na universidade. Não subestimo a sua dor, porque sei que é grave. Desculpe, mas foi apenas um caso de usar a palavra errada. E mais: reclame mesmo. Aqui eu não sou onipotente e aceito ouvir idéias discordantes. Eles servem para dar uma chacoalhada nas minhas próprias idéias.

Espero que não esteja mais zangada comigo; gosto de "ver" você por aqui.