Wednesday, July 15, 2009

Cética e cínica

Eu achei que era hora de virar adultinha e, para mim, isso significava parar com a teimosia de me lançar em estudos enlouquecidos dessas coisas que eu amo, mas que, profissionalmente, não servem para muita coi$a. Do que estou falando? De Literatura, Línguas, Psicologia e Psicanálise, meus amores intelectuais mais profundos.


Então eu fiz o seguinte: me matriculei num MBA em Gestão de Recursos Humanos. Pensei: Ah, pelo menos tem uns vestígios psi, não pode ser tão ruim. Ledo engano. Ligadinha às palavras como sou, já começo a me arrepiar com o nome MBA em Gestão. O jargão do RH é insuportável (para mim - que fique claro); tem uns modismos horrorosos. Hoje uma organização possui colaboradores (mencionar a palavra funcionário é pecado a ser expurgado da alma com autoflagelação e cento e cinquenta ave-marias). Não há uma frase proferida sem pelo menos uma destas pérolas: gestão, estratégico, capital humano, retenção de talentos, endomarketing, empreendedorismo, agregar valor e core business.


Eu não consigo entrar no clima. Fico ali, de corpo presente, mas com a cabeça em Deleuze.


As pessoas lá são muito empolgadas. Vocês não fazem nem ideia. É quase religioso o sentimento que une os alunos e os professores.


Alguns dogmas da religião em questão:



  • Carreira longa em uma só empresa, somente se você estiver num processo de ascensão meteórica;


  • Você deve ser pró-ativo;


  • Você precisa ser um líder;


  • Você deve ser ambicioso;


  • Você deve gostar de trabalhar em equipe;


  • Você deve gostar de trabalhar sob pressão;


  • (Insira aqui a sua regra; você certamente conhece uma.)




Sim, eu sei, são as contingências de nossos dias que ditam todas as regras e é preciso adaptar-se. Mas essa “formatação” de gente me incomoda sobremaneira. Eu ouço tantas reclamações a respeito dos modelos ideais que tentam nos enfiar goela abaixo (exemplinho mais comum: a mulher precisa ser magra e gostar de cor-de-rosa). Porém me admira que ninguém reclame de toda a maluquice do mundo corporativo. Estarei sozinha nesta? Se bem que a grande verdade é que estou cheia de resistências ao que ouço nas aulas, mas não compro briga. Apenas critico mentalmente o discurso alienado dessa gente. Fico me perguntando se acreditam mesmo nas pseudoverdades que repetem como mantras ou se estão apenas fingindo para sobreviver.


Quanto a mim, só tenho uma certeza: ano que vem, entro na especialização em Psicanálise. Se eu consigo terminar este MBA em Gestão de RH? Bem, essa já é outra conversa.

4 comments:

Anonymous said...

Minha querida Lys, isso nao e lugar pra voce, te manda dai. Hehehe.
Eu nao conseguiria sobreviver sequer uma materia, imagine a coisa toda. Cada vez mais me convenco de que encontrei a resposta pra velha pergunta:
"O que voce vai ser quando crescer?"

Léli said...

Tem uma regra que eu acho "ótema". Tu tens que ser diferente, mas depois vai ter que ficar igual.
É absurdo, porque segundo estas regras tu tens que ser criativo e bom no que fazes, mas tem que fazer em milésimos de segundo sem pensar.
Definitivamente... eu não sirvo pra isto. Não faço nem idéia de onde poderia me encaixar neste mercado... quer dizer... na fila do desemprego. hahahaha
Beijão Lys

Suzana Elvas said...

Lys, flor, por que você não faz uma psicanálise/psicologia voltada para escolas? Nem sei se isso existe, mas existe uma carência megaultragigantesca - tanto da instituição quanto das crianças. E não tô falando de psicopedagogia, não.
Tô te mandando email pra gente combinar a nossa sessão, viu?
Bjs

Lys said...

Carlinha, te manda daí, sai dessa é a frase do momento na minha vida. Mas eu vou continuar porque é um desafio. É um fazer diferente, sabe? Se em time que está ganhando não se mexe, vou mexer no que está perdendo. Explicando: sempre estudei aquilo que me fazia bem, e não deu certo como "carreira". Então, vou tentar outra forma de atuação. Sei lá, no fim, acho que não vai dar em nada mesmo, mas acho que preciso tentar.

A minha resposta para a pergunta "O que você vai ser quando crescer?" eu já tenho: psicanalista. Mas eu ainda não cresci. Me conta qual é a sua resposta, vai!

Léli, e o que é que você faz? Com essa cara de menina, ainda deve estar na faculdade, né? Quem me dera, querida, quem me dera! Mas de uma coisa tenho certeza: eu também não me encaixo. E nem sei se isso é bom ou ruim.

Suzana, as escolas...Been there, done that. Não como psicóloga, mas como professora. Não funciona para mim. Eu não sei trabalhar com o aluno real. Só procuro aquele interessadinho e bacanudo. Pelo que me lembro do meu estágio lecionando, os alunos não estão nem aí. Não tenho energia para isso, não. Eu queria ser uma professorinha alfabetizadora no interior, isso eu queria. Mas é só delírio.
Bora almoçar? Tô só esperando sua confirmação.

Beijos a todas!