Eu tenho um defeito, ou melhor, eu tenho vários defeitos, mas há um que considero grave e que me incomoda muito: às vezes, eu falo demais. Que por falar demais não se entenda “tagarelar enlouquecidamente”, mas sim “dizer o que não se deve a pessoas a quem não se deve, em lugares impróprios”. Como ontem, por exemplo. Eu discorria sobre um outro defeito meu: a impaciência com as situações grupais forçadas pelos professores, tipo trabalhinhos em grupo, discussões em sala de aula etc. Eu disse a uns colegas de turma que não gosto dessas atividades, que não tenho disponibilidade para discussões e, pior, que eu sou arrogante a ponto de não ter a menor vontade de tentar convencer os outros sobre a validade das minhas idéias. Duas meninas me olhavam com os olhos arregalados enquanto eu ia despejando meu arsenal de palavras inoportunas. O ápice da falta de tato se deu quando pronunciei, com todos os efes e erres, que não estava muito interessada na troca com outros alunos e que só o que os professores falavam importava realmente para mim, porque me incitavam a uma certa análise crítica do que eles ensinam. É claro que não sou tão radical assim, mas eu parecia estar tomada por uma peste qualquer e danei a falar. Alguém saiu com a seguinte pérola: Mas assim você menospreza a capacidade intelectual dos seus colegas! Eu disse: Não, imagine!, mas no fundo é isso mesmo, né? Não estou dizendo que só estou aberta a pessoas intelectualmente brilhantes. Não é isso de forma alguma, mesmo porque eu estou bem longe de ser brilhante. Mas quando a questão é acadêmica, desculpe, eu não consigo suportar grupos. Sou do bloco do eu-sozinha, já disse. Eu sei que é quase patológica a minha questão, mas, cá para nós, esse é um dos meus defeitos com os quais eu não consigo me incomodar muito.