Wednesday, February 28, 2007

Desde 1920, pelo menos

Tinha que ser examinado pelo Henrique Roxo. Há quatro anos, nós nos conhecemos. É bem curioso esse Roxo. Ele me parece inteligente, estudioso, honesto; mas não sei por que não simpatizo com ele. Ele me parece desses médicos brasileiros imbuídos de um ar de certeza de sua arte, desdenhando inteiramente toda a outra atividade intelectual que não a sua e pouco capaz de examinar o fato por si. Acho-o muito livresco e pouco interessado em descobrir, em levantar um pouco o véu do mistério — que mistério! — que há na especialidade que professa. Lê os livros da Europa, dos Estados Unidos, talvez; mas não lê a natureza. Não tenho por ele antipatia; mas nada me atrai a ele.

Lima Barreto em O Cemitério dos Mortos, 1920

Então a percepção não é só minha. E nem é algo novo, como eu erroneamente pensava. É bom saber que não sou implicante à toa.

Friday, February 23, 2007

Momo

Teve Carnaval? Nem vi.

Banho cultural

O pequeno príncipe torna impossível o banho de banheira, e não é de hoje. Desde que começou a ficar de pé, nunca mais sentou, e se contorce o tempo todo tentando pegar objetos fora do alcance ou procurando os brinquedos que acabou de jogar no chão. Ver a mãe lutando para mantê-lo sentado na banheira sempre me lembra de um episódio bastante patético envolvendo uma banheira e eu.

Sempre associei banheiras a relaxamento, e chuveiros a limpeza. Porque, como você chega sujo, entra numa banheira cheia de espuma, se esfrega, fica de molho junto com as imundícies que traz da rua e depois se enxuga e acha que está limpo? Não há como eu sair daquela poça de bactérias e não tomar uma ducha, não há.

Então teve essa vez em que eu fui com uns amigos ingleses passar uns dias numa autêntica cottage escocesa. Quando entrei no banheiro, constatei, atônita, que não havia chuveiro na casa, apenas uma grande banheira. O que é que eu fiz? Sem comunicar aos meus anfitriões o meu desconforto, fui até a cozinha e surrupiei uma caneca (também não dava para pegar nada maior discretamente) com a qual pegava água e jogava no corpo enquanto passava um frio desgraçado de pé dentro da banheira. Foram cinco dias nessa palhaçada, tudo por causa da minha cultura exótica que valoriza a limpeza em detrimento da comodidade.

Vejam que chic: a pessoa sair do Brasil para ir tomar banho de cuia na Escócia. Logo eu que pensava que só a CEDAE era capaz de me proporcionar tão gratificante experiência naquelas ocasiões de reparos emergenciais na rede!

Buscas encerradas

Encontrei uma médica que me atendeu na hora marcada. Só não está caracterizado o milagre por um detalhe: ela é homeopata. E isso faz uma diferença danada.

SOS BOLO

Você, amiga leitora, dotada de um jeitinho todo especial com potes e panelas, me responda: como é que eu faço um bolo que não sole? Há alguma ciência do bolo perfeito? Ou é aquela mítica “mão boa para bolos” ?
Noventa por cento dos meus bolos resultam em uma massa pesada e sem graça. Os outros dez por cento dão certo por puro acaso, tenho certeza. Eu, que faço menos de um bolo por ano, estou para desistir de vez.

Thursday, February 15, 2007

Pela boca

De repente, me pego ansiosa, e isso é uma novidade. Não perceberia se não atentasse para o fato de que mastigo rapidamente a comida às refeições. Eu nunca comi assim, com pressa, como se me fossem tirar o prato a qualquer momento. Isso sem contar o desejo incontrolável por chocolate.

Não enxergo os motivos.

Hoje, me desconheço.

Tuesday, February 13, 2007

Curto-circuito

Não sei bem o que aconteceu comigo, mas desde que voltei de férias danei a escrever esses textos quilométricos. Alguém precisa me fazer parar! ;)

Profissão: médico

O que é ser médico hoje? Um desfile de moda? Um exercício de egocentrismo?

Entre em um hospital particular e você verá um número enorme de mulheres de cabelo escovado, unhas longas, salto alto. Não são clientes, são médicas. Onde foram parar as roupas brancas e os sapatos rasos? Saíram de moda? Quando há uma emergência, elas correm pelos corredores com aqueles sapatos? [Se bem que, como bem frisou meu pai, o único lugar em que se pode ver médico com pressa para atender é em filmes.] Os homens são mais discretos, mas nem por isso deixam de adorar o indefectível jalecão branco com um bordado no bolso: Dr. Fulano. Como gostam do apêndice ao nome! Eles se apresentam assim, Bom dia. Eu sou o Doutor Fulano. Que fofo!

Não que as roupas importem realmente. Se o trabalho for bom, quem vai se importar com o que veste o senhor doutor? Eu é que não.

O problema é que...

Cada vez mais os pacientes têm que aturar a má-vontade, a expressão de tédio profundo e o olhar de suprema onipotência com que são observados pelos deuses da saúde. É como se eles não estivessem lá para atender doentes. [Eu tenho uma médica na família que dia desses estava fula da vida porque, durante o seu plantão num hospital público, apareciam pessoas procurando atendimento de madrugada e ela queria poder dormir!]
Ah, e antes que eu me esqueça, um conselho: não ouse fazer perguntas sobre a sua doença ou tratamento; não ouse ser proativo e opinar. Ao paciente cabe ouvir o que o senhor doutor quiser falar, e acatar, porque os médicos estudaram muito e tudo sabem.

Tem também a questão do relógio, totalmente ignorada. Meu grande desafio atual é descobrir um médico que atenda no horário em que eu marco a consulta, porque todos os que eu conheço me deixam plantada na sala de espera por horas, como se eu não tivesse uma vida fora do consultório. A solução é só marcar consultas nas férias, mesmo que o caso requeira maiores cuidados. De repente, pode-se ter a sorte de melhorar com auto-medicação e nem será necessário perder preciosas horas lendo revistas do ano de 1996.

Não há quem me faça pensar diferente: certas profissões são missões. Porque lidar com vidas humanas não é como lidar com cimento e pedras. É o caso do magistério, como disse a Alexandra neste texto, e da medicina, dentre outros. Quem não está à altura dessa responsabilidade deve procurar outros ofícios.

Se você tiver intimidade com um desses seres superiores, pergunte-lhe por que tantos médicos agem com tamanho desrespeito. Você vai ouvir os seguintes argumentos para justificar a displicência: que eles ganham mal, que os planos de saúde pagam pouco pela consulta, que trabalham horas demais, que os pacientes são histéricos e procuram atendimento sem motivo, blá, blá, blá. E você pode até concordar com isso tudo, mas aí você pára para pensar e se pergunta: Ué, mas quando eles decidiram cursar medicina, as condições já não eram essas?

Wednesday, February 07, 2007

Férias Frustradas 2: um post longo demais

Agora é isto: eu digo que vou tirar férias, e logo acontece alguma coisa que vai jogar por terra todos os meus planos de viagens, ainda que as tais sejam apenas pequenas viagens, dessas que cabem no orçamento de quem quer poupar seus milhões (rá!). Então eu fico zonza, sem saber o que fazer com as horas ociosas. Vago pela casa procurando serviços domésticos pendentes, mas não querendo encontrá-los na verdade – desafortunadamente eles pipocam por toda parte, e lá vou eu, mal-humorada, dar cabo deles.

É incrível como, quando tenho que vir ao trabalho, invento mil programas que estaria fazendo se não estivesse trancada no escritório, mas me dê liberdade provisória e eu não saberei o que fazer com ela. Da piscina nem chego perto; com companhia já acho um tédio, sem companhia me parece uma tortura ficar sentada sob o sol inclemente, tostando feito bife na chapa. Por outro lado, colocar um biquíni só para dar um mergulho de cinco minutos e depois voltar a sentir calor é trabalho demais para quem está de férias.

Quem me salvou um pouco foram os livros. Depois de várias interrupções na leitura do Grande Sertão: Veredas, consegui chegar ao final. E confesso: não gostei. No início, me encantei demais com tudo, ficava boquiaberta mesmo, porque o homem escrevia que era um negócio, vou te contar. Entretanto, lá pela metade, quando a jagunçada sai caçando "os hermógenes", meu Deus, quase morria de sono cada vez que começavam as intermináveis descrições do sertão e as divagações sobre o pacto/não-pacto de Riobaldo com o demo. Do segredinho de Diadorim eu já sabia desde o início, então o saldo ficou negativo. Os entendedores podem me atirar pedras, não estou nem aí.

Para fugir da densidade, comecei a ler as quatrocentas e tantas páginas da paraliteratura (ou seria sub?) que ganhei de presente de Natal. É tão constrangedor quando alguém quer ser engraçado e não consegue, vocês não acham? Enfim, o saldo continuou negativo.

Aí chegou pelo correio este, que, por causa dela, furou imediatamente a minha lista de espera (eu devo ter mais de vinte livros novíssimos, lindos e cheirosos esperando para serem devorados). Ainda não terminei e, fora o fato de eu conseguir encontrar erros de revisão bem grosseiros para uma edição tão bonita, acho que meu saldo de férias finalmente vai ficar positivo. Eu conto para vocês depois.
Por hoje já chega, não?